quarta-feira, 28 de abril de 2010

Lojas com produtos grátis chegam ao Brasil

terça-feira, 27 de abril de 2010

Lojas com produtos grátis chegam ao Brasil

Sample Central e Clube Amostra Grátis apostam no conceito batizado de tryvertising

Por Sylvia de Sá, do Mundo do Marketing | 27/04/2010
sylvia@mundodomarketing.com.br

magine entrar em uma loja, escolher um produto e levá-lo para casa. A cena poderia parecer comum, se não fosse uma diferença: o consumidor não paga nada por isso. Impossível? Agora não mais. A partir deste ano, os brasileiros poderão conhecer o conceito batizado de “tryvertising”, do inglês try (teste) + vertising (advertisign, propaganda). Chegam ao mercado nacional as lojas Sample Central e Clube Amostra Grátis.

Muito mais do que benefícios para o consumidor, a iniciativa aparece como uma alternativa e complemento à tradicional pesquisa de mercado. Nas lojas, os clientes podem escolher produtos que ainda não chegaram às prateleiras para levar para casa, ou experimentar os itens com valor superior a R$ 100,00 na própria loja. Em seguida, eles respondem a uma pesquisa que auxilia as marcas no processo de desenvolvimento e concepção do produto, passando pelo comportamento de consumo, até o lançamento. A ideia serve também para produtos que já estão no mercado, mas não tiveram boa aceitação por parte dos consumidores.

“Se a ação de sampling dá resultado e é realizada há tanto tempo, imagine o que o tryvertising pode fazer pelas marcas”, questiona o publicitário João Pedro Borges, um dos sócios do Sample Central, em entrevista ao Mundo do Marketing. Entre as vantagens do novo conceito em relação ao sampling tradicional está o fato de que o cliente tem contato com o produto em si e não apenas com uma amostra. Além disso, é ele quem escolhe o que experimentar, dando mais credibilidade às pesquisas.

No Clube Amostra Grátis, conceito se abrasileirou
O projeto surgiu em 2007, na Austrália, e foi implementado em Tóquio, no Japão, com a Sample Lab. A empresa, inclusive, é franqueadora da Sample Central, que inaugura sua loja, um espaço de 250 m², em junho, em São Paulo. Já o Clube Amostra Grátis abre as portas do espaço de 400 m² um pouco antes, em maio, também em São Paulo. O projeto foi inspirado em lojas precursoras no segmento, como a própria Sample Lab, a SamplePlazza, na China, a SampleU, nos Estados Unidos, e a Esloúltimo, na Espanha. O conceito, entretanto, recebeu algumas adaptações para o mercado brasileiro.

“No modelo japonês é preciso marcar horário e o processo fica engessado. Aqui, o cliente pode ir direto na loja. Já em Barcelona os clientes pagam uma taxa por visita, enquanto no Brasil o valor será pago anualmente”, explica Luiz Gaeta, um dos sócios do Clube Amostra Grátis, ao lado de Denis Shimada, em entrevista ao Mundo do Marketing. Assim como no Japão, os associados da Sample Central também precisarão marcar horário para visitar o local.

As diferenças entre as empresas não param por aí. Enquanto a anuidade do Sample Central é de R$ 15,00, o Clube Amostra Grátis cobra um valor de R$ 50,00 para os que querem experimentar os produtos. O processo, no entanto, é semelhante nas duas lojas. Os interessados devem fazer o cadastro no site, pagar a taxa e adquirir o seu cartão do programa de relacionamento que dá direito à visitação e aquisição de cinco produtos por mês. A medida em que as pesquisas são respondidas, os associados podem ganhar pontos e retirar ainda mais produtos.

Cadbury, Nestlé, Unilever e P&G adotaram conceito no exterior
Por aqui, nem o Sample Central (foto em perspectiva), nem o Clube Amostra Grátis revelam quais são as marcas que oferecerão produtos para experimentação. Segundo apuração da reportagem, entre as cogitadas estão Nestlé, Telefônica, Góoc e Grupo Betin. As categorias variam de cosméticos a alimentos, passando por eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Lá fora, companhias como Cadbury, Corona, Heinz, L'Oreal, Nestlé, Nitento, Nissin, Panasonic, Procter & Gamble, Sony e Unilever já apostam no conceito e obtêm resultados expressivos.

Em Tóquio, 76% dos clientes que experimentaram o produto antes de chegar às prateleiras tornaram-se efetivamente consumidores após o seu lançamento. Já 94% dos que levaram produtos para casa responderam ao questionário, um feedback excelente paras as marcas. “O tryvertising é bom para a indústria porque além de obter a opinião do consumidor também pode gerar um boca a boca positivo, caso ele goste do produto”, acredita Borges, da Sample Central, que espera ter 40 mil cadastros em até 12 meses.

Os dois primeiros dias de inauguração da Sample Central serão sem agendamento e a expectativa é de que o fluxo seja de cinco mil a 10 mil pessoas. No Clube Amostra Grátis, o cadastro – que foi aberto na última semana – deve receber até 20 mil consumidores e o lançamento espera a visita de 600 a 700 pessoas, um número mais modesto. A expectativa para receber menos pessoas faz parte da estratégia do Clube Amostra Grátis, que não deseja fazer muito alarde antes do lançamento.

Trabalho com foco nos “trysumers”
O objetivo é fazer uma espécie de triagem entre os visitantes. “O assunto gera mídia espontânea e repercute naturalmente na internet, por isso não faremos ações até a inauguração”, explica Gaeta. A taxa anual e o cadastramento também funcionam como um filtro para validar as pesquisas dos consumidores. Já a Sample Central investe em ações digitais. “Como o ponto de contato é prioritariamente a web, a estratégia é focada em Marketing Digital. Fazemos ações com blogueiros, relacionamento em redes sociais, e-mail Marketing e viral, além de links patrocinados”, diz Borges.

A forte presença na internet está também ligada ao conceito de “trysumers”, uma referência aos consumidores das gerações Y e Z que estão praticamente imunes à propaganda tradicional e levam muito mais em consideração a opinião de outros consumidores na hora da decisão de compra. É justamente neste público que a Sample Central e o Clube Amostra Grátis (foto em perspectiva) apostam. “Agora, além de se basear na experiência de outros consumidores, este cliente poderá ter sua própria experiência gratuitamente”, aponta o sócio do Sample Central, que tem ao seu lado no projeto o publicitário Celso Loducca, o instituto de pesquisas Ibope, a agência de Marketing Promocional Bullet e os fundos independentes DGF Investimentos e Calés Investimentos.

Antes mesmo da inauguração, a Sample Central prevê a abertura de outras cinco lojas em capitais brasileiras. O Clube Amostra Grátis também tem planos de expansão. “É provável que sejam inauguradas unidades em cidades como Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, além de uma segunda em São Paulo. Vamos aguardar os resultados iniciais”, pondera Gaeta.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Concentração de mercado?

14/04/2010RELACIONAMENTO COM OS CONSUMIDORES


Em 1993, Sylvester Stallone estava em uma fase da carreira em que se dava ao luxo de satirizar a si mesmo. Depois de fazer cinco filmes da série Rocky e três Rambos, consagrado como ator de filmes de ação, ele decidiu não se levar nem um pouco a sério. Nessa fase está um filme bem interessante: “O Demolidor”. Em uma movimentada paródia dos blockbusters que o projetaram, Stallone faz o papel de John Spartan, um policial que, depois de passar 40 anos em uma câmara criogênica, é descongelado para perseguir um criminoso sanguinário (Simon Phoenix / Wesley Snipes) em um mundo em que a polícia está completamente despreparada para lidar com esse tipo de problema, uma vez que Los Angeles tornou-se uma cidade utópica, onde todos vivem em paz e o pensamento politicamente correto chega ao ponto de proibir o consumo de hambúrgueres.

No filme, que arrecadou cerca de US$ 168 milhões nas bilheterias de todo o mundo, há inúmeros momentos espirituosos (como aquele em que Stallone se surpreende ao saber que Schwarzenegger foi eleito presidente) e em uma dada ocasião a personagem de Sandra Bullock convida Spartan para jantar no Taco Bell, explicando que, desde que a empresa venceu a guerra do fast food, todos os restaurantes da cidade têm a mesma marca! Um exagero futurista que vem bem a calhar com toda a discussão recente a respeito do aumento da concentração no varejo brasileiro, em especial no setor eletroeletrônico.

O fato é que desde os tempos de Adam Smith a dinâmica do capitalismo leva a uma acumulação de capital nas mãos de poucos grupos, mais bem preparados e capazes de não apenas compreender, mas antecipar as mudanças tecnológicas, sociais e comportamentais. Das fábricas de tecido na Inglaterra no século XVIII à indústria de alimentos mundial de hoje, passando por todos os segmentos de mercado, existe um constante movimento em que um mercado fragmentado, ao ganhar corpo, começa a ter algumas empresas líderes, que tornam-se mais fortes e crescem mais rápido que os concorrentes, ocupando mais espaços no mercado. Não apenas pelo crescimento orgânico, mas também por fusões e aquisições, esse processo leva à criação de alguns poucos grupos que dominam parcelas expressivas do mercado.

Entretanto, no varejo brasileiro esse processo ainda está em evolução. Se nos supermercados os cinco maiores operadores detêm cerca de 45%, em países como o Reino Unido esse percentual chega aos 75%. Mais próximo daqui, no Chile dois grupos detêm a quase totalidade do varejo supermercadista, três empresas controlam o setor de farmácias e outras três, as lojas de departamentos.

Por conta disso, ao longo do tempo surgiram diversas alternativas para que o pequeno varejo não apenas subsista, mas prospere contra a maré aparentemente irreversível de consolidação. Um exemplo são as franquias. Sob esse modelo, cada pequeno empresário não apenas continua no mercado, como ganha novas ferramentas e todo um arsenal de conhecimento trazido pelo franqueador, para dessa forma crescer, abrir novas lojas, continuar a se expandir. Ou ainda as Centrais de Negócios, em que pequenos operadores independentes assumem uma marca comum e, patrocinados ou não por um player maior (que pode ser um atacadista interessado em manter sua força de mercado ou um varejista que percebe que em certas regiões não possui o entendimento da cultura local ou o formato de negócios mais adequado), unem forças para desenvolver compras, logística, marketing, comunicação e muitas outras atividades.

Essas alternativas de inclusão do pequeno varejo no grande tabuleiro de xadrez das redes cria casos interessantes, em que os pequenos, se considerados sob a bandeira única na qual trabalham, são maiores que muitos “grandes”. Um exemplo é a Euronics, segunda maior varejista de artigos eletrônicos da Europa, com 11.300 pontos de venda em 29 países (todos varejistas independentes) e faturamento conjunto de 14,4 bilhões de euros em 2008. No Brasil, a rede de serviços automotivos DPaschoal buscou operadores independentes ao perceber que não conseguiria levar seu modelo de lojas para cidades menores e, em vez de estabelecer uma concorrência direta, realiza um trabalho de capacitação desses operadores, em um movimento em que a rede, os operadores independentes e os consumidores saem ganhando.

É evidente que as atenções da imprensa se concentram nas grandes fusões e aquisições que envolvem líderes de mercado, devido ao seu impacto no mercado e na sociedade e ao seu potencial midiático. Entretanto, pintar, a partir daí, cenários de monopólio é ignorar não apenas o grau de consolidação da própria indústria, mas principalmente a capacidade de inovação dos pequenos e médios operadores, que não estão dispostos a ficar parados esperando serem engolidos.

Alternativas existem, para todos os gostos: franquias, licenciamento, Centrais de Negócios, sócios-empreendedores. É uma questão de ousar. E usar.


Renato Müller (muller@gsmd.com.br), gerente de Publicações da GS&MD