“Capacidade psicológica de sentir o que sentiria outra pessoa. Se
colocar no lugar do outro.”
Nos meus cursos e palestras, assim como na minha vida, venho pregando o
uso da empatia como solução para uma comunicação efetiva, assim como o primeiro
passo para o entendimento e atendimento das necessidades do outro.
Até hoje, achei que estava conseguindo algum sucesso no meu afã.
Acontece que, agora em janeiro, fiz uma cirurgia para colocação de uma
prótese no meu joelho castigado há mais de 30 anos por uma artrose. Durante a
recuperação desta cirurgia, me deparei com algumas limitações de locomoção que
me levaram a, no sentido das palavras, reaprender a andar. Aí começaram as
minhas dificuldades que me levaram as reflexões, agora descritas.
Na primeira vez que tentei sair do meu prédio, sozinho, com auxilio de
um andador, verifiquei que isto era impossível, devido à rampa com declive
longo e acentuado ou a escada, outra opção apresentada. Eu só tinha como sair
de carro, com ajuda de um motorista, já que não consigo dirigir, descendo a
rampa da garagem.
Com o desenvolvimento da minha recuperação, já andando de bengala,
podendo descer a escada, me atrevi a empreender uma caminhada até a esquina da
minha rua. Mais uma aventura: a calçada esburacada é um constante perigo para o
caminhante. As rampas de garagem e mesmo da calçada, comprometem o nosso
equilíbrio a todo o momento. Nada disso se compara com o susto que levei com um
motoboy, de moto em cima da calçada, que quase me arrancou o traseiro, num
total descaso com a prioridade de quem transita na calçada. Um pouco mais a
frente, automóveis estacionados em cima da calçada, em baixo da marquise,
deixam um pequeno espaço para o transeunte, entre seu pára-choque e a árvore
plantada. Isto tudo sem contar com as pessoas que caminham num passo apressado
e quase te derrubam, sem se importar a mínima com sua condição debilitada.
Tudo isto que acabei de relatar se deu no longo trajeto de 70 metros,
que separam a portaria do meu prédio da esquina.
Isto me levou a refletir sobre a percepção que temos das necessidades
dos nossos semelhantes.
Explico: por diversas vezes, em reuniões de condomínio foi abordada a
necessidade de melhorar o acesso dos idosos, que são muitos no prédio, e daqueles
com necessidades especiais. Eu, algumas vezes até, como componente do Conselho
Fiscal, dei menor importância ao fato, priorizando outras medidas que julgava
mais urgentes. Quantas vezes andei apressado pelas calçadas, me aborrecendo com
transeuntes mais lentos que atrasavam meus passos. Em diversos momentos, ao
passear com a minha cadelinha, deixei sua guia esticar, atrapalhando e fazendo
desviar do trajeto, os outros pedestres.
Ou seja, foi preciso que eu sofresse algum tipo de restrição no meu
caminhar para que, realmente, me colocasse no lugar do outro e sentir o que ele
realmente sente e não o que eu imagino que ele sente.
Estas linhas me servem de reflexão e de alerta para que possa analisar
com mais critérios as reais necessidades de nossos semelhantes, sem precisar
que passe pelas mesmas necessidades e, de agora em diante, me proponho a empenhar
cada vez mais para usar da “real” EMPATIA, como ferramenta de auxilio para tornar
a vida do nosso semelhante mais fácil de ser vivida.
José
Luciano Silveira Furtado