domingo, 25 de setembro de 2011

Lucro certo na Belo Horizonte que não dorme

A madrugada da capital representa oportunidades para negócios de várias áreas, de academias a supermercados 

Publicação: Paulo Henrique Lobato - Estado de Minas 24/09/2011 06:00 Atualização: 24/09/2011 00:39

O jovem Gabriel Moreto, de 24 anos, trabalha das 7h às 17h numa construtora de Belo Horizonte. Mal bate o cartão de ponto, ele corre para a faculdade de engenharia civil, de onde só sai por volta das 23h. De lá, segue para a Academia Alta Energia, na Savassi, para aproveitar parte da madrugada para malhar o corpo e relaxar a mente: "É o tempo que tenho para atividade física". Não tão distante dali, no Belvedere, o comerciante Antônio Lucinho, de 43, acostumou-se a fazer compras no Hipermercado Extra depois da meia-noite: "Uma das vantagens é não enfrentar fila no caixa. Outra é fugir do caótico trânsito". Clientes como Gabriel e Antônio, cada vez mais, despertam a atenção de empresários, ávidos pela fatia de lucro oferecida pela madrugada.

O aumento da população de Belo Horizonte - o número de moradores cresceu em 137 mil pessoas entre 2000 e 2010 (2.375.444 homens e mulheres) - e o aumento do poder aquisitivo das famílias vêm estimulando empresas de vários setores a manter as portas abertas 24 horas. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH) não tem estatística sobre a fatia do faturamento dos empresários com a venda de produtos e serviços na madrugada, mas especialistas frisam que a estratégia não apenas pode garantir o faturamento de quem aposta no lucro apurado enquanto a maior parte da população dorme como reforça a marca dos empreendimentos junto aos consumidores.

Por tabela se torna um diferencial frente ao concorrente. "As pessoas trabalham cada vez mais e a tendência é que façam algumas atividades no horário de menor movimento. Menor movimento no trânsito de veículos, menor movimento de clientes nas lojas e academias… Eu mesmo já comecei a fazer compras no fim da noite. Isso já é comum em centros como Rio de Janeiro e São Paulo. Em Belo Horizonte, começa a ganhar força", avalia José Luciano Furtado, professor da disciplina comportamento do consumidor da Faculdade de Tecnologia do Comércio da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (Fatec Comércio/CDL-BH).

De olho no novo nicho, Flávio Costa, dono da rede de academias Alta Energia, com nove unidades na capital e que planeja investir R$ 5 milhões na abertura de mais quatro endereços, em 2012, aposta na estratégia desde junho. "Temos 12 mil alunos na rede e percebemos que muitos, principalmente o público jovem, precisavam desse horário (flexível). Decidimos que a unidade da Savassi, por ser a mais centralizada, deveria funcionar 24 horas. Já temos, em média, 15 alunos por hora. Até o fim do ano, acreditamos que o número vai dobrar, pois somos a única (empresa do setor) a oferecer o horário com professor à disposição."

O estudante e estagiário de direito Mauro Guilherme Pimenta, de 20, frequenta a academia durante a madrugada e aprova o horário flexível. "O tempo da gente é curto."

O Hipermercado Extra conta com três lojas na Grande BH que funcionam por 24 horas. Mas devido à forte concorrência no setor, o grupo não revela o faturamento apurado na madrugada. Já os clientes que entram na Videolocadora Dumont do Cruzeiro entre a meia-noite e as 6h respondem por 7% do faturamento da tradicional rede. "Nesse período, além do (aluguel) de filmes,  há muita saída de outros produtos, como chocolates e lasanhas. Outro diferencial para atrair a clientela é o caixa eletrônico (para saques)", explica Ricardo Tavares, gerente do local, enquanto atende a enfermeira Liliana Abrantes, de 31. "Muitas vezes, além dos filmes, levo outros produtos para casa. Esse horário favorece a gente", diz a profissional de saúde, que também leciona numa faculdade da região metropolitana.

Clientela de todas as classes

A noite em Belo Horizonte é para todos. Há comércio tanto para o público da baixa renda quanto para o da classe média e o da elite. E há pontos de vendas que recebem a visita de homens e mulheres de todas as classes sociais, como o Bar do Nonô, com entradas pela Rua Tupis e Avenida Amazonas, no Centro. Especialista em caldos de mocotó, o local é campeão de vendas da iguaria, com cerca de 700 canecas nos dias quentes e aproximadamente 1 mil no inverno.

"O movimento não para, principalmente nas noites frias. Trabalho aqui há 20 anos. Há um rodízio entre os funcionários: trabalhamos duas semanas durante o dia e duas semanas à noite", contou o balconista Sebastião Rodrigues da Silva, mestre em cortar a iguaria feita com as patas de boi e servi-la, com cebolinha a gosto e dois ovos de codorna, aos clientes.

Muitos homens e mulheres que debruçam os cotovelos no balcão do Nonô, frequentadores assíduos do endereço que não tem mesas e cadeiras, se tornaram seus amigos. O mesmo ocorre no Bar Mickey, que funciona bem em frente e também serve dezenas de canecas de mocotó na madrugada. O vaivém de pessoas também é intenso em grandes redes do ramo de alimentos que mantém as portas abertas 24 horas.

É o caso de algumas lojas do McDonald’s. "Com a operação 24 horas ou em horário especiais, fechamos o ciclo de serviço, que começa com o café da manhã. Assim, atendemos às expectativas dos clientes que buscam conveniência", resume Vlamir Alves dos Anjos, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Arcos Dourados Comércio de Alimentos, responsável pelas operações do McDonald’s na América Latina. Das 28 unidades da rede na capital, quatro são 24 horas. (PHL)

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