domingo, 4 de setembro de 2011

Mutários têm um novo perfil Com avanço da renda, jovens e classe C já são maioria nos financiamentos habitacionais da Caixa Econômica Federal

Geórgea Choucair - Estado de Minas Publicação: 04/09/2011 07:33 

O consumidor jovem, a classe C e as mulheres estão ganhando mais espaço nos financiamentos imobiliários nos últimos anos. Já os idosos com mais de 65 anos estão fugindo dos empréstimos quando o assunto é a compra da casa própria. O aumento de renda da população brasileira e a ampliação da linha de crédito e de subsídios para a compra de imóveis estão trazendo mudanças no perfil do comprador de unidades habitacionais. Os dados fazem parte de levantamento da Caixa Econômica Federal, que responde por mais de 75% dos financiamentos habitacionais no país.

Em Minas Gerais, os mutuários com até 35 anos representam hoje 57,3% do total de empréstimos da Caixa. Há 10 anos, eles somavam 50,3%. A chamada classe C também já virou maioria nos financiamentos do banco. As pessoas com renda de até R$ 3.270 representam hoje 63,7% dos tomadores de empréstimo da instituição, sendo que em 2001 esse índice representava 50,3%. Mas quando o assunto é o mutuário com idade mais avançada, acima de 65 anos, os números mostram que a procura por crédito despencou nos últimos 10 anos em Minas: caiu de 1,9% para 0,6%. Os números da Caixa para o Brasil seguem a tendência do estado.

“Os jovens que estão ingressando no mercado de trabalho não têm tanto temor do financiamento. Eles não vivenciaram aqueles períodos inflacionários, quando os preços chegavam a subir até 80% ao mês”, afirma Marivaldo Araújo Ribeiro, gerente regional de Habitação da Caixa. Em muitos contratos, diz, o valor da mensalidade hoje está decrescendo, o que dá mais tranquilidade ao mutuário para fazer o financiamento.

A queda na taxa de desemprego e o aumento do poder aquisitivo da população são outros fatores que ajudam pessoas mais jovens e de classe social mais baixa a adquirir a casa própria. “Temos ainda os incentivos governamentais, como o programa Minha casa, minha vida, com taxas de juros mais baixas e subsídios para a baixa renda”, explica. No Brasil, 81% das vendas feitas dentro do programa foram para unidades habitacionais de até R$ 150 mil.

Crédito flexível A linha de crédito mais flexível permitiu à classe C deixar de pagar aluguel e ir à compra da casa própria, avalia Cristiano Chiabi, diretor de crédito imobiliário da MRV Engenharia. “Muita gente consegue hoje trocar a prestação mensal de R$ 800 de aluguel por R$ 600 de financiamento imobiliário. Com os subsídios do governo, a pessoa faz as contas e vê que consegue pagar a prestação”, diz Chiabi.

O valor médio das unidades vendidas pela MRV é de R$ 100 mil. Entre os novos compradores, Chiabi observa mais jovens morando sozinhos. “Já os idosos não fazem tanto financiamento pelo fato de o seguro ficar mais caro, prazos mais curtos e prestações com valores mais altos”, afirma. A incorporadora Quartzo foi fundada neste ano com foco na baixa renda. “A queda no desemprego leva pessoas a ter oportunidade de comprar a casa própria mais cedo”, observa Fábio Nogueira, diretor da Quartzo. O valor médio das unidades vendidas pela Quartzo é de R$ 110 mil.

O consultor técnico Miguel Henrique dos Santos, de 28 anos, acaba de comprar um apartamento na planta com a noiva, Damiane Almeida Mendes. O imóvel de dois quartos em Vespasiano custou R$ 90 mil e vai ser financiado em 25 anos. A previsão é que fique pronto em 2013, quando os dois pretendem se casar. Para pegar o empréstimo, o casal uniu a renda, que no total fica em torno de R$ 4 mil ao mês. É o primeiro imóvel próprio dos dois.

A assistente administrativa Welita Resende Feitosa, de 32, também caminha para ter seu primeiro imóvel. Ela acaba de comprar uma unidade de dois quartos em Betim. O apartamento custou R$ 122 mil que serão pagos em 321 meses. Nos primeiros 21 meses, ela vai desembolsar R$ 407 de prestação. O apartamento fica pronto em dois anos.
As maiores oportunidades para jovens no mercado de trabalho ajudam a engrossar essa clientela na compra da casa própria, avalia Paulo Tavares, presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-MG). “Eles estão se tornando independentes muito cedo, com 25 ou 26 anos. Hoje temos diversos programas de trainees com boas oportunidades para esse público”, afirma Tavares.

Saques do FGTS

Os mineiros sacaram R$ 226,16 milhões do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para usar na compra da casa própria de janeiro a julho deste ano, contra R$ 223,15 milhões no mesmo período de 2010. Em volume de unidades, os saques passaram de 30.533 para 32.386 no período. Os números mostram que o apetite para investir em imóveis está aumentando como um todo e a tendência, segundo especialistas, é de que o ritmo continue acelerado. “Há um equilíbrio da economia e linha farta de crédito”, observa Tavares.

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