segunda-feira, 25 de abril de 2011

6 lições da desilusão com a OGX

  • Bolsa
  • 25/04/2011 09:36

Queda das ações deixou claro para investidores que empresas de exploração de petróleo em estágio pré-operacional são muito arriscadas – ainda que tenham Eike no comando

João Sandrini e Marcela Ayres, de
São Paulo – Na segunda-feira passada, a OGX provocou um verdadeiro terremoto seguido de tsunami na BM&FBovespa. A empresa não conseguiu atingir as expectativas do mercado em relação ao total de reservas que estão bem próximas de ser consideradas provadas e recuperáveis, o que fez com que suas ações perdessem 17,25% do valor em um único dia. As quedas se espalharam também por outras empresas de Eike Batista, como a MMX e a LLX, e por outras companhias de exploração de petróleo ainda estágio inicial de operação, como a HRT e a Queiroz Galvão Exploração e Produção. As ações da OGX até recuperaram parte das perdas na terça e na quarta, mas os ganhos foram insuficientes para que aqueles que já haviam investido no papel recuperassem o prejuízo. Abaixo, EXAME.com aponta seis lições que podem ser aprendidas pelos investidores a partir de um revés que não será esquecido tão rapidamente pelo mercado:

1 - Investir em petróleo é muito arriscado
Uma máxima bastante difundida no mercado diz que não existe no mundo dos negócios nada mais lucrativo do que uma empresa de petróleo bem-administrada. Em segundo lugar, diz a mesma sabedoria, aparecem as empresas de petróleo mal-administradas. Verdadeira ou não, a máxima reflete a importância do petróleo como motor do mundo. O ouro negro literalmente “move” economias inteiras no Oriente Médio. Até mesmo países mais diversificados como o Brasil parecem ter mudado de patamar a partir da descoberta de bilhões de barris de petróleo acumulados na camada do pré-sal.
Na realidade, a máxima parece especialmente verdadeira ao se analisar o caso brasileiro. Maior e mais lucrativa empresa do país, a Petrobras não é nenhum exemplo de estrutura enxuta nem de custos reduzidos. De tempos em tempos, a empresa sofre pressões diretas do governo federal, que dá a palavra final sobre reajustes de combustíveis e tem poder para pôr ou tirar executivos de suas diretorias. Única empresa de exploração de petróleo com ações negociadas na BM&FBovespa durante várias décadas, a Petrobras pode ter criado no imaginário do investidor brasileiro a falsa sensação de que empresas de petróleo são “inquebráveis”.
Quem pensa assim, no entanto, não poderia estar mais enganado. Pouca gente entende melhor a indústria mundial de petróleo do que o bilionário americano T. Boone Pickens. Com mais de 60 anos de experiência no setor, Pickens se tornou um dos homens mais ricos do mundo ao construir primeiro uma grande empresa de petróleo e depois um fundo de investimentos em energia. A quem planeja aplicar dinheiro no setor, ele costuma fazer três alertas: 1) O custo de achar petróleo e gás é sempre maior do que o estimado; 2) O petróleo demora mais que o esperado para começar a ser produzido; e 3) As descobertas nunca são tão grandes quanto se imagina.
Na média, empresas da área de exploração em todo o mundo costumam achar petróleo em apenas 30% dos campos perfurados. No caso da Petrobras, esse índice chega a 50%. Quem compra as ações da OGX pelos preços atuais aposta que a empresa será ainda mais certeira que a concorrente estatal.

2 – Investir em promessas é ainda mais arriscado
Ainda mais temeroso do que investir em exploração de petróleo é comprar ações de companhias que estão em estágio pré-operacional. Essas companhias chegam à bolsa em um estágio ainda prematuro do negócio. Mesmo que tenham sido constituídas a partir de boas ideias, devem ser vistas com cautela pelos investidores. Empresas pré-operacionais não possuem produção relevante nem geração de caixa capaz de sustentar os pesados investimentos que garantirão retorno aos acionistas no futuro. A dificuldade de tomar empréstimos bancários é bem maior. São, portanto, companhias que dependem inteiramente da confiança do mercado para captar recursos e concluir projetos. Como o crédito para ativos de risco é o primeiro que seca em momentos de turbulência econômica, mesmo empresas pré-operacionais muito bem-geridas podem acabar vítimas da falta de sorte.
Devido ao risco inerente ao processo, o comportamento dessas ações não poderia ser mais errático. Durante a crise de 2008, as ações que apresentaram a maior volatilidade entre as que compõem o Ibovespa foram as do setor imobiliário e das companhias de Eike Batista. No mês passado, as empresas de Eike ocupavam duas posições no ranking das dez mais arriscadas da bolsa (clique aqui e veja a lista).
"Tem gente que pula de paraquedas e acha que é tranquilo, mas há outras pessoas que não topam assumir esse risco", diz Flavio Sznajder, sócio da gestora de recursos Bogari Capital. "Como eu não sei avaliar o que a OGX pode realmente entregar, prefiro ficar fora." Para William Castro Alves, analista da XP Investimentos, "quem não acredita que a OGX será capaz de entregar boas notícias sobre sua campanha exploratória nos próximos meses não deve comprar o papel".
3 – Qualquer empresa vai vender sua história como a melhor história
A OGX conta com um dos times de executivos mais competentes do Brasil. Além de trazerem experiência e conhecimento do setor de petróleo, essa pessoas foram contratadas para promover o plano de negócios da companhia da melhor forma possível. Assim como outras grandes empresas, a OGX possui um departamento de relações com investidores criado exclusivamente para tirar dúvidas e melhorar a comunicação com as pessoas responsáveis pela gestão de fortunas no Brasil e no mundo. Quando dados muito relevantes são divulgados ao mercado, é comum que o diretor-geral e que o próprio acionista controlador da companhia também acompanhem o diretor de RI e venham a público fazer o anúncio. Manter esse canal de diálogo aberto é estratégico para que a companhia possa contar com o mercado quando novamente precisar levantar dinheiro.
Para não afugentar os investidores, é lógico que os executivos de uma companhia tentarão sempre ressaltar seus pontos fortes ou suas oportunidades de crescimento. Isso não é feito por má-fé ou para enganar ingênuos. Qualquer um que estivesse no comando de uma empresa faria o mesmo – e quem está do lado comprador dos papéis sabe que essa é a regra do jogo. O caso da OGX chama a atenção porque um grande número de investidores e analistas decidiram comprar as promessas da companhia antes de haver números suficientes para que fosse avaliado o que realmente a empresa poderia entregar.

Em parte, Eike Batista pode ser responsabilizado pelas expectativas exageradamente otimistas em torno da OGX. O bilionário fez promessas ao mercado que acabou não cumprindo. Tanto que, em entrevista ao jornal Valor publicada nesta segunda-feira, o diretor-geral da OGX, Paulo Mendonça, admite que a empresa precisa "mudar a estratégia de comunicação para que não ocorram novos ruídos entre a empresa e o mercado". Quem investe em qualquer empresa aberta deve ter consciência, portanto, que é necessário checar as histórias que serão contadas pelos departamentos de relações com investidores ou pela presidência da companhia para não não haja surpresas negativas.
4 – No mercado, não existem reis. Apenas tronos
A máxima acima já foi repetida milhares de vezes ao redor do mundo, mas, mesmo assim, o erro continua sendo cometido. Afinal, em se tratando de Eike Batista, é difícil não esperar algo excepcional. Em pouco mais de dez anos, o bilionário saiu praticamente do anonimato para se tornar o oitavo homem mais rico do mundo, segundo a revista Forbes. O império construído por Eike inclui empresas de mineração, logística, energia e estaleiros - além, é claro, do petróleo. Alguém bobo ou ingênuo nunca seria capaz de acumular nem pequenas frações de sua fortuna.
O bilionário foi visto com certo ceticismo até 2008. A venda da maior parte da mineradora MMX naquele ano para a Anglo American por 5,5 bilhões de dólares pode ser considerado um "ponto de virada". Em seguida, a OGX fez uma das maiores ofertas iniciais de ações da história da BM&FBovespa e iniciou uma campanha exploratória de petróleo com percentuais de acerto bem superiores à média mundial. Na Bacia de Campos, principal fonte de reservas da empresa, nenhum poço seco foi encontrado até o momento. A sucessão de eventos positivos contribuiu para a criação de mitos em torno de Eike Batista. O principal deles é de que o bilionário teria tido acesso ao mapa das fontes de recursos minerais brasileiros porque seu pai, Eliezer Batista, foi presidente da Vale na década de 1960.
É provável que haja muito pouco de verdade em torno dessas histórias. Mas que investidor não quer estar junto dos melhores? É melhor contratar Warren Buffett ou o cunhado para administrar seu dinheiro? Quem não quer pegar carona em um império em construção? As expectativas em relação ao relatório da D&M eram tão positivas que muita gente disse que os números não tão eram ruins e, mesmo assim, as ações caíram mais de 17%. O documento serviu para mostrar que Eike ainda terá muito o que fazer para chegar ao almejado posto de homem mais rico do mundo como apregoa. E quem investe nas ações da OGX deve ter na mente que o bilionário pode cometer erros como qualquer outro ser humano e que algum dia alguém ainda mais ousado e inteligente poderá assumir seu trono.
5 – O trabalho dos analistas é limitado
Desde que estreou na BM&FBovespa, a OGX é uma das ações com maior número de recomendações de compra. Em março, EXAME perguntou a 30 analistas quais eram suas ações preferidas para investir em 2011 (clique aqui e veja a lista). O papel da empresa ganhou 15 indicações, atrás apenas da Vale e da Petrobras. Também não eram poucos os analistas que esperavam que o relatório divulgado pela consultoria D&M desse um novo gás às ações – e não o contrário.

Mas por que tantos analistas estavam tão equivocados? Em primeiro lugar, os profissionais de análise de investimento trabalham a partir de números e expectativas divulgadas pela própria empresa. "O que aconteceu na semana passada foi uma correção dessas expectativas", diz Osmar Camilo, analista da Socopa. As projeções de preço-alvo feitas para a OGX têm como base estudos geológicos que não são 100% seguros. Os critérios de classificação das reservas são muitas vezes subjetivos o suficiente para criar falsas impressões no próprio time que comanda a empresa.
O trabalho dos analistas é pegar esses números prematuros e imprecisos, submetê-los a uma série de premissas e então chegar ao valor do justo do papel. É importante lembrar que avaliar o valor futuro de uma empresa que está em operação há várias décadas já pode ser muito complicado. Entre as variáveis difíceis de acertar, estão o crescimento da economia brasileira e a taxa de juros no futuro. O trabalho também envolve a análise de fatores bastante subjetivos, como a capacidade de uma companhia de repassar pressões inflacionárias e a viabilidade de futuros projetos de expansão. Como não possui nenhuma bola de cristal, o analista acaba fazendo um exercício de futurologia intrinsecamente sujeito a erros.
No caso de empresas de petróleo pré-operacionais, o número de premissas a serem consideradas é ainda maior. Nenhum analista ouvido sugere que houve má-fé na divulgação de dados ao mercado. Todos os números anunciados ao mercado passam pelo crivo da CVM e são fiscalizados pela ANP. O problema é que muita coisa pode mudar entre um relatório e outro. Tanto que Eike Batista considerou ultrapassado o relatório da D&M três dias depois que ele foi divulgado ao mercado. "É como o Benjamin Button, já nasceu velho", afirmou ele. Quem decide investir em ações da OGX deve estar preparado para muita volatilidade e eventuais correções de rumo à medida que mais dados sobre seus campos de petróleo se tornem conhecidos.
6 – Onde há fumaça, há fogo.
O relatório da D&M foi o revés mais ruidoso de Eike Batista desde que suas empresas chegaram à bolsa. Mais de 11 bilhões de reais em valor de mercado da OGX evaporaram em um único dia. Mas esse não foi o primeiro sinal de que a campanha exploratória da empresa poderia estar em um estágio mais inicial do que o mercado imaginava. Até 2010, a companhia prometia ao mercado a venda de 30% de seus campos de petróleo na Bacia de Campos como forma de financiar a construção da infraestrutura necessária para a exploração dos demais poços. No final do ano, a empresa avisou ao mercado que o negócio seria adiado até meados deste ano, à espera da divulgação do relatório da D&M. Agora, além de anunciar reservas que devem demorar mais tempo que o imaginado para se transformarem em lucro, Eike também avisou que a venda deverá incluir apenas 10% dos blocos da Bacia de Campos.
Por mais que a empresa diga que não, houve uma sinalização no ano passado de que os blocos ou não estão em um estágio iminente de exploração ou que o não valem tanto quando o bilionário imagina. Afinal, há dinheiro de sobra no mundo ávido para investir em petróleo – principalmente o chinês – e ninguém topou pagar o que a OGX pedia pelos blocos da Bacia de Campos. O problema para o investidor de que o negócio não seja realizado é que a OGX tenha que voltar ao mercado com uma nova emissão de ações para financiar seus projetos de expansão, alerta Henrique Ribas, analista da Planner. Como esse tipo de operação costuma colocar pressão sobre os papéis, quem investe na empresa deve estar ciente que pode perder dinheiro no médio prazo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário