segunda-feira, 18 de abril de 2011

Brasil: crescente importância global

18/04/2011 Momentum
 
Na semana passada, foi anunciado que a operação do Carrefour no Brasil tornou-se a segunda maior, entre os mais de 40 países nos quais o segundo maior varejista do mundo opera.

A empresa é a mais global no setor de alimentos, considerando o número de países em que está presente, e opera no Brasil desde a década de 70, quando introduziu no país o conceito de hipermercados. Durante muito tempo alternou o primeiro e segundo lugar no ranking de varejistas, sendo finalmente superado pelo Grupo Pão de Açúcar, que nos últimos anos se distanciou ainda mais, por conta da aceleração de sua expansão orgânica e pela aquisição e fusão, especialmente importantes, do Ponto Frio e com a Casas Bahia.

A evolução da participação da operação brasileira no grupo Carrefour, superando a posição anteriormente ocupada pela Espanha, é resultado da expansão das operações locais no Brasil; da incorporação dos negócios do Atacadão; e, também e muito particularmente, pela retração que ocorre nos mercados europeus, por conta do cenário econômico e de consumo menos positivo. Os quatro países que detêm as maiores participações nas vendas do Carrefour na Europa (França, Espanha, Itália e Bélgica), foram, todos, particularmente afetados pelo quadro econômico.

Se forem consideradas as perspectivas nos próximos anos, a distância que separa a operação brasileira da francesa, o maior mercado para a rede, só tenderá a reduzir-se nos próximos anos, pela continuidade do crescimento da operação no Brasil e a menor, ou quase inexistente, expansão dos negócios na França. Mas ainda está muito distante o momento em que, em termos de tamanho de negócio, a operação brasileira poderá rivalizar com a francesa.

Essa crescente importância da operação brasileira na comparação com outros mercados globais não é um privilégio do Carrefour. Ela tem se repetido para um número crescente de varejistas globais em todos os segmentos, sendo particularmente verdadeira no varejo massificado de alimentos com o Walmart; no setor de vestuário com a C&A; no setor de material de construção com a Leroy Merlin, do grupo Adeo, e a Telhanorte, do Grupo Saint-Gobain; no de food service, com Mc Donald’s, Pizza Hut, KFC e Subway; nos shopping centers, com investimentos de desenvolvedores internacionais; e também no segmento luxo, em que marcas como Louis Vuitton, Prada, Tiffany’s e outras, têm suas operações no Brasil crescendo de importância e já se encontrando entre as mais relevantes mundialmente.

Tudo como uma simples consequência da expansão dos negócios no varejo como reflexo da expansão econômica, com o crescimento do consumo pelo aumento da renda e do emprego; associados à maior formalização do mercado para contribuir para o redesenho da geografia e a da estrutura do mercado. Nesse cenário, os maiores grupos formais podem crescer mais rapidamente e de forma consistente, fazendo valer os diferenciais competitivos nos quais muito investiram, nas áreas de tecnologia, logística, distribuição, operação e gestão de pessoas.

Como resultado, o varejo brasileiro deu um salto quântico em sua maioridade empresarial, através da maior profissionalização da gestão; dos maiores investimentos em áreas estratégicas, particularmente em Recursos Humanos, Canais, Lojas e Tecnologia; e, por conta da estabilidade econômica e política, além da redução da informalidade, pode pensar em um prazo mais longo, viabilizando o crescimento dos negócios e a participação do mercado brasileiro no conjunto das operações das redes globais que estão por aqui.

Apenas no setor de farmácias e nas lojas de departamentos tradicionais essa realidade não ocorre. No setor de farmácias, pela pulverização e características do mercado, dominado por operações independentes e com nenhuma marca internacional com presença relevante, os cinco maiores players têm uma pequena, porém crescente, participação de mercado. E no de lojas de departamentos tradicionais, aquelas de grande porte e superfície que vendem praticamente de tudo, que estão em fase de declínio como formato de varejo no mercado internacional, pouca ou nenhuma relevância têm no mercado brasileiro, depois que o setor se reinventou por aqui através da Renner, Riachuelo e Marisa, com lojas mais compactas e orientadas exclusivamente para moda.

Nos próximos cinco ou dez anos, vamos ainda assistir ao crescimento da importância do Brasil nos mais diversos setores, e com um aumento da presença internacional no varejo brasileiro, consequência irreversível do maior interesse pelo tamanho e ampliação do mercado e das perspectivas de continuidade de seu amadurecimento. Não está distante o momento em que varejistas brasileiros começarão a investir mais fortemente no varejo internacional, em especial no mercado latino-americano, invertendo a direção da tendência. Um fato quase natural num futuro próximo.


Marcos Gouvêa de Souza (mgsouza@gsmd.com.br), diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza

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